terça-feira, 5 de agosto de 2008

SOLIDÃO: NECESSIDADE OU SINTOMA?




A solidão: necessidade ou sintoma?


No texto passado falei sobre a importância da amizade para a manutenção da saúde. Curiosamente, relendo o maravilhoso “Quase Tudo” de Danuza Leão, um pequeno trecho me chamou atenção. A autora comenta que necessita estar só em alguns momentos para ter o mínimo de saúde mental. E nós? Será que conseguimos diferenciar a solidão necessária do isolamento sentido nos tempos modernos?

No entanto, a solidão é também necessária. É importante para lidarmos com nossos desejos, frustrações, angústias e com nosso próprio desenvolvimento.
E também p ara os que não estão sozinhos. Refiro-me a você mesmo que me lê e que é mãe, pai, filho, filha, irmão, irmã, marido, mulher e outros. Muitas vezes, vejo casais que não conseguem ficar sozinhos. E não estou falando em romantismo. Estou falando em total incapacidade para resolver ou fazer qualquer coisa sem outra pessoa por perto.

Hollywood está aí, povoando nosso inconsciente de que a solidão é algo horrível, que só se pode ser feliz se tiver alguém o tempo todo dizendo que somos incríveis, que nos ama incondicionalmente e que, enfim a solidão é sinônimo de tristeza e fracasso.
Será que as coisas são assim?

Quando se é jovem não se pode esperar pelo momento que vamos estar sozinhos em casa. Muitos amigos casados também comentam que quando as mulheres estão viajando permitem-se pequenos prazeres. Confidenciam-me como se estivessem cometendo um pecado gravíssimo. E desconfio que as mulheres, também, devem fazer o mesmo. Não só desconfio, como recomendo: para uma vida feliz a dois, momentos felizes a sós, consigo mesmo.

O problema é que além de Hollywood temos as novelas, os filmes enchendo nossas cabeças com cenas de traição, motel, mortes, enfim, os fantasmas da vida a dois. O que não se sabe é que uma vez que se age assim, neuroticamente rastreando o outro, fica-se inseguro e vulnerável. Pior: acaba-se, não raramente fazendo relatórios chatos de atividades para o outro e exigindo que o mesmo seja feito.

A relação não precisa ser entre casais de namorados ou casados. Qualquer relação que caia nessa armadilha está fadada ao tédio e ao desgaste. Há pessoas que não respeitam quando o outro está no banheiro, no quarto ou simplesmente pensando na vida. Querem saber tudo.

"Não se pode fazer nada sem a solidão" - Pablo Neruda.

Winnicott, psicanalista inglês pesquisou sobre os objetos transacionais e sua importância para as crianças. Esses objetos: cobertores, ursinhos, chupetas, chocalhos, ensinam o bebê gradativamente que a mãe é um ser separado dele, com vontades próprias. E é exatamente daí que nasce a nossa criatividade. Pois bem, o problema é que no decorrer da vida, aprendemos que a vida de adulto é uma imensa gama de tarefas a serem realizadas e detalhadamente contadas para o outro.
As relações são construídas com confiança, interesse e descoberta. E aí é que mora um grande aliado, ao ser empreendedor de momentos a sós consigo próprio, se tornará de falto alguém mais interessante e sábio .

Os filósofos existenciais nos mostraram que a solidão é inerente ao ser humano e são bem poucos os que conseguem tirar proveito ou ter o direito (ou se dar o direito) de alguns minutos, horas ou dias a sós consigo próprio. Somente quando experimentamos certas situações sozinhos é que vamos conquistando a confiança necessária para a vida. Pode ser qualquer coisa: cozinhar, dirigir, ir a algum lugar, assistir um filme, enfim, qualquer atividade que se tenha o prazer único de nossa própria companhia.

Então, se pergunte: o que você faz em seus momentos de solidão? Você se permite ficar a sós com você mesmo? Quando você se olha no espelho e se arruma a quem está tentando agradar? Quando você se alimenta, presta atenção no que está comendo? Sente o sabor? Quando toma um banho, olha para o seu próprio corpo? Você lê algum livro? Faz alguma atividade que permita ter algo para contar para quando não estiver sozinho? Já mergulhou dentro de você mesmo?
Há uma pessoa incrivelmente interessante dentro de você mesmo. Permita que ela se mostre! A psicoterapia é uma dessas formas! Aventure-se!


José Carlos da Costa - Psicólogo pós-graduado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo


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