segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Por que será que há tanto desemprego? Uma reflexão necessária


Por que será que há tanto desemprego? Uma reflexão necessária




Antes de compreendermos as dificuldades relativas aos recursos humanos e suas relações e implicações para o setor administrativo, é preciso levar em conta a história da educação.
Educação? Sim! Educação!

Vejamos a interface escola – trabalho - sociedade através da História:

A Educação Tradicional que dominou até a segunda metade da década de 90, prioriza o ensino da seguinte maneira:

· Professor como centro do conhecimento. Como “Mestre” tinha a obrigação de conhecer profundamente a disciplina que lecionava e exigir que seus alunos aprendessem. (no entanto, cabe informar; exigência = decorar)
· O Conhecimento dos alunos não era levado em conta. Suas experiências ou necessidades de aplicação do que se aprendia, também não tinham relevância.
· Classificação de alunos em hierarquias: (A, B, C, D e E ou de 0 a 10). De igual maneira as classes também eram assim organizadas.
· Trabalhos em grupo: cada aluno faz uma parte, lançado à sorte de não ter sua parte reconhecida ou valorizada, além do que, não participa da construção do todo.
· Participação dos pais restrita a Reuniões para informes da situação do aluno na escola.

Segundo Michael Foucault, em “Vigiar e Punir”, os sistemas de escolarização priorizados pelo ocidente tinham como caráter fundamental a preparação para o mercado de trabalho.
Nesse mercado de trabalho haveria a figura de um supervisor (ou superior) vigiando as atitudes e comportamentos de seus subalternos; assim como também era responsável pelo controle dos horários de descanso e alimentação. O interesse do supervisor se limitava à vida do funcionário (aquele que funciona/ que faz funcionar) dentro da empresa. De igual maneira, o professor neste período se preocupava exclusivamente com a vida do aluno na escola. Em ambos os casos, a preocupação estava na produção e na re-produção do modelo proposto por quem ocupava uma situação hierárquica mais favorecida. Além do que, Foucault, aponta para as questões na subjetividade[1] e na interferência direta no modo como o individuo se comportará, de modo que podemos detectar:

· Diminuição da criatividade
· Dificuldade para trabalhar com o outro, logo, dificuldade para lidar com a diversidade.
· Desempenho relacionado com o medo da punição ou desejo de recompensa: diminuição da motivação para o estudo/ trabalho, assim como produção de pessoas “disciplinadas” ou “ inadequadas”.
· Preocupação em fazer bem “sua parte” ou o que é de sua competência
· Falta de contato efetivo e afetivo duradouro e criador.

Cabe, lembrar que a sociedade também se modificou. As relações familiares se alteraram, as mulheres ganharam outros encargos e o avançar ideológico-político, permitiu que uma série de tabus começasse a ser derrubada. Simultaneamente as novas tecnologias promoveram uma transformação completa nos modos de produção, comunicação e relação entre as pessoas, essas também comprometeram o meio ambiente.
Com novas maneiras de se organizar socialmente as empresas se viram obrigadas também a modificar o seu modo de perceber o sujeito que nela se insere. Tal transformação é oriunda de uma ruptura com antigos paradigmas e que atingiu todas as instâncias sociais: educação, saúde, trabalho, justiça, etc.
As novas leis e diretrizes educacionais apontam para um método sócio- construtivista, de modo que o aluno conseguisse vivenciar na escola e fora dela:
· Maior interação com o seu meio de vivência
· Respeito pela diversidade social (credos, raças, orientações sexuais, níveis sociais)
· Atuação em equipes cooperativas.
· Preparação para a autonomia e independência
· Criatividade.

Em resumo, as novas leis de educação, bastante influenciadas pelos estudos dos psicólogos Piaget e Vygotsky , centralizam o aluno/ educando como sujeito ativo da construção social e de seu próprio conhecimento.

COMPLICAÇÕES POLÍTICAS


Porém, nenhuma mudança se estabelece sem crise. E há uma crise, provocada pela resistência a essas mudanças que assola a Educação (e também outras instâncias sociais). Professores que se sentiram destituídos de sua função e do status social/ institucional que tinham, alunos que chegam às escolas com muitas carências educacionais globais (pais ausente, inadequados, lares desestruturados pela crise econômica, etc) de modo que a escola encontra dificuldades em suas funções: não consegue preparar todos os alunos para o mercado de trabalho e nem para a vida.
Logo, o programa de aprovação automática revelou-se uma bomba de efeitos devastadores: professores e alunos se sentiram desmotivados a permanecer na escola, salvo, claro, a obrigação de cumprir com suas obrigações. O aluno que mesmo com dificuldades importantes é aprovado e chega ao final do segundo grau ou ensino médio sem estar pronto para o mercado (faltam-lhe qualificações: trabalho em equipe, autonomia, responsabilidade, noção de empreender, facilidade párea lidar com linguagens diversas, etc.) e se vê com duas opções: ou custeia uma faculdade particular (o que exige um capital extra) ou enfrenta os vestibulares das universidades públicas (que são consideras as melhores).
Acrescentemos ainda o fato de que o mundo permanece com suas modificações constantes, o que leva a urgência de modificação na maneira como percebemos a realidade.
Logo, as dificuldades relacionadas ao chamado Mercado de trabalho, não se encontram isoladas ou desconectadas da crise na Educação, que por sua vez se relaciona ao modo como nos comportamos enquanto cidadãos e sujeitos ATIVOS da construção de uma nova realidade.
[1] [1] Subjetividade é entendida como o espaço de encontro do indivíduo com o mundo social, resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva dos grupos e populações. A psicologia social utiliza frequentemente esse conceito de subjetividade e seus derivados como formação da subjetividade ou subjetivação.A subjetividade constitui-se num espaço relacional, aonde a insistência dos modos de percepção irá instaurar a realidade

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