Por que será que há tanto desemprego? Uma reflexão necessária
Antes de compreendermos as dificuldades relativas aos recursos humanos e suas relações e implicações para o setor administrativo, é preciso levar em conta a história da educação.
Educação? Sim! Educação!
Vejamos a interface escola – trabalho - sociedade através da História:
A Educação Tradicional que dominou até a segunda metade da década de 90, prioriza o ensino da seguinte maneira:
· Professor como centro do conhecimento. Como “Mestre” tinha a obrigação de conhecer profundamente a disciplina que lecionava e exigir que seus alunos aprendessem. (no entanto, cabe informar; exigência = decorar)
· O Conhecimento dos alunos não era levado em conta. Suas experiências ou necessidades de aplicação do que se aprendia, também não tinham relevância.
· Classificação de alunos em hierarquias: (A, B, C, D e E ou de 0 a 10). De igual maneira as classes também eram assim organizadas.
· Trabalhos em grupo: cada aluno faz uma parte, lançado à sorte de não ter sua parte reconhecida ou valorizada, além do que, não participa da construção do todo.
· Participação dos pais restrita a Reuniões para informes da situação do aluno na escola.
Segundo Michael Foucault, em “Vigiar e Punir”, os sistemas de escolarização priorizados pelo ocidente tinham como caráter fundamental a preparação para o mercado de trabalho.
Nesse mercado de trabalho haveria a figura de um supervisor (ou superior) vigiando as atitudes e comportamentos de seus subalternos; assim como também era responsável pelo controle dos horários de descanso e alimentação. O interesse do supervisor se limitava à vida do funcionário (aquele que funciona/ que faz funcionar) dentro da empresa. De igual maneira, o professor neste período se preocupava exclusivamente com a vida do aluno na escola. Em ambos os casos, a preocupação estava na produção e na re-produção do modelo proposto por quem ocupava uma situação hierárquica mais favorecida. Além do que, Foucault, aponta para as questões na subjetividade[1] e na interferência direta no modo como o individuo se comportará, de modo que podemos detectar:
· Diminuição da criatividade
· Dificuldade para trabalhar com o outro, logo, dificuldade para lidar com a diversidade.
· Desempenho relacionado com o medo da punição ou desejo de recompensa: diminuição da motivação para o estudo/ trabalho, assim como produção de pessoas “disciplinadas” ou “ inadequadas”.
· Preocupação em fazer bem “sua parte” ou o que é de sua competência
· Falta de contato efetivo e afetivo duradouro e criador.
Cabe, lembrar que a sociedade também se modificou. As relações familiares se alteraram, as mulheres ganharam outros encargos e o avançar ideológico-político, permitiu que uma série de tabus começasse a ser derrubada. Simultaneamente as novas tecnologias promoveram uma transformação completa nos modos de produção, comunicação e relação entre as pessoas, essas também comprometeram o meio ambiente.
Com novas maneiras de se organizar socialmente as empresas se viram obrigadas também a modificar o seu modo de perceber o sujeito que nela se insere. Tal transformação é oriunda de uma ruptura com antigos paradigmas e que atingiu todas as instâncias sociais: educação, saúde, trabalho, justiça, etc.
As novas leis e diretrizes educacionais apontam para um método sócio- construtivista, de modo que o aluno conseguisse vivenciar na escola e fora dela:
· Maior interação com o seu meio de vivência
· Respeito pela diversidade social (credos, raças, orientações sexuais, níveis sociais)
· Atuação em equipes cooperativas.
· Preparação para a autonomia e independência
· Criatividade.
Em resumo, as novas leis de educação, bastante influenciadas pelos estudos dos psicólogos Piaget e Vygotsky , centralizam o aluno/ educando como sujeito ativo da construção social e de seu próprio conhecimento.
COMPLICAÇÕES POLÍTICAS
Porém, nenhuma mudança se estabelece sem crise. E há uma crise, provocada pela resistência a essas mudanças que assola a Educação (e também outras instâncias sociais). Professores que se sentiram destituídos de sua função e do status social/ institucional que tinham, alunos que chegam às escolas com muitas carências educacionais globais (pais ausente, inadequados, lares desestruturados pela crise econômica, etc) de modo que a escola encontra dificuldades em suas funções: não consegue preparar todos os alunos para o mercado de trabalho e nem para a vida.
Logo, o programa de aprovação automática revelou-se uma bomba de efeitos devastadores: professores e alunos se sentiram desmotivados a permanecer na escola, salvo, claro, a obrigação de cumprir com suas obrigações. O aluno que mesmo com dificuldades importantes é aprovado e chega ao final do segundo grau ou ensino médio sem estar pronto para o mercado (faltam-lhe qualificações: trabalho em equipe, autonomia, responsabilidade, noção de empreender, facilidade párea lidar com linguagens diversas, etc.) e se vê com duas opções: ou custeia uma faculdade particular (o que exige um capital extra) ou enfrenta os vestibulares das universidades públicas (que são consideras as melhores).
Acrescentemos ainda o fato de que o mundo permanece com suas modificações constantes, o que leva a urgência de modificação na maneira como percebemos a realidade.
Logo, as dificuldades relacionadas ao chamado Mercado de trabalho, não se encontram isoladas ou desconectadas da crise na Educação, que por sua vez se relaciona ao modo como nos comportamos enquanto cidadãos e sujeitos ATIVOS da construção de uma nova realidade.
[1] [1] Subjetividade é entendida como o espaço de encontro do indivíduo com o mundo social, resultando tanto em marcas singulares na formação do indivíduo quanto na construção de crenças e valores compartilhados na dimensão cultural que vão constituir a experiência histórica e coletiva dos grupos e populações. A psicologia social utiliza frequentemente esse conceito de subjetividade e seus derivados como formação da subjetividade ou subjetivação.A subjetividade constitui-se num espaço relacional, aonde a insistência dos modos de percepção irá instaurar a realidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário