terça-feira, 19 de abril de 2011

Os jovens bêbados de hoje

Fui jantar na casa dos meus pais hoje. Enquanto esperava a comida, fiquei na sala, e como não tenho televisão em casa (sim, tenho, mas não tenho antena alguma), vi uma reportagem da Rede Globo sobre o consumo de álcool entre jovens. Link para a reportagem aqui:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1488867-7823-JOVENS+ABUSAM+NO+CONSUMO+DE+ALCOOL+NO+BRASIL,00.html
O que mais me intriga é que não se pergunta NUNCA o porquê dos jovens beberem além do normal. Eles estão fazendo o sintoma da contemporaneidade.
A vida, corrida, sem sentido, sofrida e baseada nos valores financeiros não permite outras vivências. A velha regra que deseja enquadrar o mundo:
• Tenha dinheiro
• Tenha sucesso
• Seja jovem.
• Seja feliz
• Seja héterossexual
• Tenha o maior número de parceiros sexuais que puder/ tenha tesão 24 horas por dia
• Seja magra (para mulheres)/ seja forte (“sarado” para homens)
• Seja popular.
• Não tenha responsabilidades.
• Não pense

Essas regras a meu ver induzem-nos à sedução da sedação. Ou seja, queremos a todo custo que possamos nos enquadrar no mundo. O medo de não ser inserido (embora, o próprio medo já seja um sinal bastante claro de inserção nos ditames da sociedade contemporânea) é oriundo da violência em forma de exclusão que sente o que não tem dinheiro, obtém sucesso facilmente, que não é feliz (embora, lembremos, a felicidade é um estado de espírito), o que é bi, homo, trans, o que não sente tesão ou que não transa deliberadamente, o que é gordo, magro, o que é tímido, o que é cheio de responsabilidades...

A sociedade de consumo hoje, produz como sintoma a inversão absoluta de valores, a perda do sentido da vida e o descaso com a vida como um todo integrado.
Os jovens que estão em frente à faculdade... Como não pensar neles? Qual o sentido de irem para a aula se serão aprovados mediante pagamento da mensalidade? Será que é por isso que o trabalho, antes vinculado ao valor pessoal de ser alguém que contribui para o mundo, deu lugar à alguém que quer tirar o máximo de gozo do mundo?


Para podermos crescer, psiquicamente falando, temos que aprender a lidar com a realidade, com a dor, com o desprazer, com a frustração.
O problema é que a ordem moral de hoje é o gozo absoluto, a vantagem, a esperteza e o “se dar bem” a qualquer custo. A qualquer custo não! Com o menor custo possível, por favor.

Se antes, estudantes tomavam as ruas para protestar, hoje, entorpecidos e apolitizados, optam por aproveitar o máximo possível a condição de ainda estarem dentro de um dos padrões. Afinal, sabem inconscientemente ou não que mais cedo ou mais tarde terão que arcar com o preço das suas opções.

ao lado, ilustração do grafiteiro nova iorquino Bansky!




Será que eles sabem que suas opções de hoje já os constituem?
“Você faz as escolhas, as escolhas fazem você”
Não, não se trata de um discurso moralista e retrógrado. É que francamente, não vejo nada de moderno nisso. É o sistema, sugando novamente vidas e mantendo-se exatamente como é.
Meus alunos me perguntaram sobre a Virada Cultural. Pode soar medroso, sinal dos tempos (em outras palavras, do “está ficando velho”), mas o fato é que, tenho ficado cada vez mais longe de multidões. A má educação das pessoas é assombrosa, irritante e desgastante. Não vejo coletividade nas multidões: vejo exércitos de pessoas querendo a todo custo, serem umas melhores que as outras. Na última Virada Cultural que fui, vi ruas virarem oceanos de urina, vômito e demais dejetos. Bastante desagradável. Fora assaltos, violência por motivos torpes e outros horrores. Na última Parada do Orgulho Gay que fui, vi pessoas totalmente homofóbicas, outras totalmente desprovidas de pudor e outras irritamente chatas.
Não sei, mas acho que ficar velho tem suas vantagens! A gente vai aprendendo a não perder tempo com coisas que não gosta!
Se eu acho ruim beber? Pelo contrário! Adoro, mas que seja entre amigos, na minha própria casa e os meus amigos só saem daqui bem alimentados. E aí daqueles que não ligarem quando chegar em casa.
Aliás, falando nisso, minha Páscoa será bem diferente: nada de chocolates, nada de bacalhau. Adoro as duas coisas, mas que chatice essa coisa de fixação, não? Páscoa para mim combina com vegetais, pratos coloridos, muitos sucos e leveza!


E combina com o disco fenomenal da Patti Smith, chamado simbolicamente de Easter, que na tradução significa, Páscoa!
Falando em Patti Smith, deixo um vídeo rápido dessa maravilhosa cantora e poeta para vocês:
http://www.youtube.com/watch?v=FN_fJ6mDTqM

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito ruim isso, prof.

Vai dizer que você nao bebia e fumava?

José Carlos Costa disse...

Cara pessoa anônima (que desconfio seriamente da identidade):
não se trata de moralismo, mas penso que você não tenha lido a matéria, logo não entendeu a questão que está sendo colocada.