terça-feira, 19 de abril de 2011

Os jovens bêbados de hoje

Fui jantar na casa dos meus pais hoje. Enquanto esperava a comida, fiquei na sala, e como não tenho televisão em casa (sim, tenho, mas não tenho antena alguma), vi uma reportagem da Rede Globo sobre o consumo de álcool entre jovens. Link para a reportagem aqui:
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1488867-7823-JOVENS+ABUSAM+NO+CONSUMO+DE+ALCOOL+NO+BRASIL,00.html
O que mais me intriga é que não se pergunta NUNCA o porquê dos jovens beberem além do normal. Eles estão fazendo o sintoma da contemporaneidade.
A vida, corrida, sem sentido, sofrida e baseada nos valores financeiros não permite outras vivências. A velha regra que deseja enquadrar o mundo:
• Tenha dinheiro
• Tenha sucesso
• Seja jovem.
• Seja feliz
• Seja héterossexual
• Tenha o maior número de parceiros sexuais que puder/ tenha tesão 24 horas por dia
• Seja magra (para mulheres)/ seja forte (“sarado” para homens)
• Seja popular.
• Não tenha responsabilidades.
• Não pense

Essas regras a meu ver induzem-nos à sedução da sedação. Ou seja, queremos a todo custo que possamos nos enquadrar no mundo. O medo de não ser inserido (embora, o próprio medo já seja um sinal bastante claro de inserção nos ditames da sociedade contemporânea) é oriundo da violência em forma de exclusão que sente o que não tem dinheiro, obtém sucesso facilmente, que não é feliz (embora, lembremos, a felicidade é um estado de espírito), o que é bi, homo, trans, o que não sente tesão ou que não transa deliberadamente, o que é gordo, magro, o que é tímido, o que é cheio de responsabilidades...

A sociedade de consumo hoje, produz como sintoma a inversão absoluta de valores, a perda do sentido da vida e o descaso com a vida como um todo integrado.
Os jovens que estão em frente à faculdade... Como não pensar neles? Qual o sentido de irem para a aula se serão aprovados mediante pagamento da mensalidade? Será que é por isso que o trabalho, antes vinculado ao valor pessoal de ser alguém que contribui para o mundo, deu lugar à alguém que quer tirar o máximo de gozo do mundo?


Para podermos crescer, psiquicamente falando, temos que aprender a lidar com a realidade, com a dor, com o desprazer, com a frustração.
O problema é que a ordem moral de hoje é o gozo absoluto, a vantagem, a esperteza e o “se dar bem” a qualquer custo. A qualquer custo não! Com o menor custo possível, por favor.

Se antes, estudantes tomavam as ruas para protestar, hoje, entorpecidos e apolitizados, optam por aproveitar o máximo possível a condição de ainda estarem dentro de um dos padrões. Afinal, sabem inconscientemente ou não que mais cedo ou mais tarde terão que arcar com o preço das suas opções.

ao lado, ilustração do grafiteiro nova iorquino Bansky!




Será que eles sabem que suas opções de hoje já os constituem?
“Você faz as escolhas, as escolhas fazem você”
Não, não se trata de um discurso moralista e retrógrado. É que francamente, não vejo nada de moderno nisso. É o sistema, sugando novamente vidas e mantendo-se exatamente como é.
Meus alunos me perguntaram sobre a Virada Cultural. Pode soar medroso, sinal dos tempos (em outras palavras, do “está ficando velho”), mas o fato é que, tenho ficado cada vez mais longe de multidões. A má educação das pessoas é assombrosa, irritante e desgastante. Não vejo coletividade nas multidões: vejo exércitos de pessoas querendo a todo custo, serem umas melhores que as outras. Na última Virada Cultural que fui, vi ruas virarem oceanos de urina, vômito e demais dejetos. Bastante desagradável. Fora assaltos, violência por motivos torpes e outros horrores. Na última Parada do Orgulho Gay que fui, vi pessoas totalmente homofóbicas, outras totalmente desprovidas de pudor e outras irritamente chatas.
Não sei, mas acho que ficar velho tem suas vantagens! A gente vai aprendendo a não perder tempo com coisas que não gosta!
Se eu acho ruim beber? Pelo contrário! Adoro, mas que seja entre amigos, na minha própria casa e os meus amigos só saem daqui bem alimentados. E aí daqueles que não ligarem quando chegar em casa.
Aliás, falando nisso, minha Páscoa será bem diferente: nada de chocolates, nada de bacalhau. Adoro as duas coisas, mas que chatice essa coisa de fixação, não? Páscoa para mim combina com vegetais, pratos coloridos, muitos sucos e leveza!


E combina com o disco fenomenal da Patti Smith, chamado simbolicamente de Easter, que na tradução significa, Páscoa!
Falando em Patti Smith, deixo um vídeo rápido dessa maravilhosa cantora e poeta para vocês:
http://www.youtube.com/watch?v=FN_fJ6mDTqM

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Há alguns anos, quando eu ainda assistia a TV, lembro que assisti com horror a uma propaganda de uma banda (que começara no underground hardcore) vendendo um famoso refrigerante escuro! E que não era Fanta! (a tal bandinha da Fanta nunca desceu! Era um pão com frango! Só com muita maionese pra descer).
A propaganda em questão era mais ou menos assim: a banda tocava e certa hora parava o show porque havia um cara na platéia que não estava consumindo o tal refrigerante.

Uma outra (irritante) propaganda de tesouras mostrava uma criança que dizia o tempo todo “Eu tenho você não tem”, levando posteriormente à suspensão do comercial em questão por desconsiderar a criança não possuidora da tal tesoura infantil.


Muito bem! Penso que esses dois exemplos de propaganda ilustram bem o modo como nossa moral contemporânea é.

Uma coisa é fato: tornamo-nos consumidores! Hoje, o cliente, é o núcleo de todo a ciência da Administração. Mais do que nunca, as empresas perceberam que o que a alimenta são as pessoas que consomem seus produtos e serviços. Penso que não preciso falar muito sobre isso, uma vez que tenho certeza que você, caro leitor, ou trabalha com telemarketing ou já atendeu alguma ligação de alguma empresa querendo vender algo para você.

Pois bem, até aí, nenhum problema, não podemos negar a importância do dinheiro para a manutenção da vida. Mas há um diferencial imenso entre trabalharmos pelas nossas necessidades e desejos e trabalhamos apenas pelos nossos desejos. E cada vez mais trabalhamos para pagar por coisas que na verdade não precisamos, mas desejamos. A questão então é por que desejamos? Porque como o rapaz do show de rock (aspas, por favor) da propaganda ou como a criança sem a tesoura, desejamos ser reconhecidos pelo nosso poder aquisitivo, ao que as ciências sociais chamam de status.

A busca por status é a mola propulsora de toda a sociedade de consumo. E ela pega a todos nós, porque uma vez nela inseridos, nossa subjetividade é massacrada pelos tons imperialistas das propagandas.

Uma das evidencias mais fortes da força da propaganda na nossa subjetividade é a depressão, ou melhor aquilo que contemporaneamente chamamos de depressão.
Maria Rita Kelh, psicanalista, em seu último livro “O tempo e o cão” lança como hipótese o fato da depressão ser hoje um sintoma social. Antes que o leitor seja inclinado a pensar em uma sociedade deprimida e deprimente, é preciso entender que na leitura sensível de Maria Rita, o sintoma denuncia o que de fato não está dando certo, em qualquer época na qual ele se manifesta. Na época das clássicas histéricas ouvidas por Freud, por exemplo, o comportamento erotizado dessas mulheres evidenciava a extrema repressão exercida sobre a sexualidade feminina.
Pois bem, e hoje? Quais seriam os fundamentos para a depressão crescer em uma sociedade que teria muitos recursos disponíveis para que ela se extinguisse? O que nos torna deprimidos? Alguém lucraria com a depressão? Se sim, quem?

Essas questões complexas são inteligentemente dispostas por Kelh, de modo que conseguimos compreender que há um embotamento afetivo que contagia o ser humano na contemporaneidade. Para Kelh, o Capitalismo atual concentrado nas mãos das grandes corporações e armado com os lucros exorbitantes de 3 indústrias que o sustentam: a bélica, a da propaganda e a farmacêutica.
Evidentemente as críticas não são para qualquer propaganda ou qualquer remédio. Nem mesmo aos antidepressivos, mas sim ao uso desprovido de bases verdadeiras para que sejam ministrados, utilizados ou recomendados.
Há alguns imperativos sociais hoje, ditados a cada banca de jornal, livros de auto-ajuda e no próprio vocabulário corporativo, que dissemina idéias como: seja positivo, emagreça e seja feliz ou como ter sucesso em 50 dicas infalíveis. Quais são os mandamentos atuais?
1. Tenha dinheiro
2. Tenha sucesso a qualquer custo
3. Seja feliz o tempo todo
4. Faças sexo o máximo que puder
5. Consuma muito para ser alguém de real importância
6. Vá em todas as festas, shows, raves e afins que puder, mesmo que esteja cansado! Ficar em casa é coisa para gente infeliz!
7. Tenha muitos parceiros afetivos e sexuais.
8. Em hipótese alguma se deprima! Isso não é permitido!
9. Seja magra (para as mulheres) e devidamente forte (ou sarado - para os homens)
10. Não tenha pudor algum em obter vantagens sobre os outros.


A matriz de todos esses comportamentos é o foco na produtividade imposta pelo Capitalismo. A produtividade por sua vez, é comprometida, caso exista o questionamento sobre o modo como as coisas funcionam. Esse modus operandi contemporâneo corresponde às exigências cada vez maiores para que sejamos dignos de corresponder aos requisitos dos mandamentos sociais. Nossa moral (a nossa, brasileiros e brasileiras, para citar o demônio) é obter vantagens. Em parte porque estabelecemos um contraponto entre ética e lucratividade, de modo que esvaziamos nossos valores humanos em função do encher os bolsos.



Tempo é dinheiro, você já deve ter ouvido falar ou mesmo já falou para alguém. Esse sinônimo é gradativamente instalado em nossa cabeça que nos sentimos mal quando não estamos fazendo nada, ou muito bem quando não fazemos nada, mas temos dinheiro o suficiente para certos luxos que causam inveja ao outro.
Eis que o tempo todo deve ser investido na captação de recursos (pessoais até) para que sejamos mais interessantes às empresas e ao Mercado de Trabalho. Nada que não seja produtivo ou utilitário é valorizado. Logo, assistir a um filme por puro prazer pega mal! È preciso que o filme tenha algo a oferecer para você em forma de ferramentas de trabalho.

A principal ferramenta de trabalho na contemporaneidade é o conhecimento e a informação, tanto que novas tecnologias surgem a cada instante, tornando nossa busca cada vez mais rápida – (para não ficarmos para trás).


Assim, a pressa invade todos os espaços da nossa vida. Se fizermos algo que nos custou algum investimento de tempo ou dinheiro (ops, é a mesma coisa!), logo queremos a recompensa, se conhecemos alguém, logo queremos transar, se transamos logo, queremos gozar, se gozamos, logo queremos gozar de novo, se gozarmos de novo, logo queremos outros que nos façam gozar de novo e daí em diante.

È assim que os relacionamentos se resumiram a ficar ou a famosa dar uma rapidinha, que a carta virou e-mail, que virou mensagem dos comunicadores instantâneos, que virou scrap e agora é um texto limitado a 150 caracteres. Vai por mim, vai surgir algum tipo de rede social baseada só em emotions!




Essa rivalidade e crescente desumanização/ coisificação das pessoas e endeusamento do dinheiro, como principal fundamento da vida, aprisiona tanto o miserável que vive nas ruas, como o empresário bem sucedido com dois, três carros do ano na garagem. Ambos, em extremidades diferentes acreditam que o que dá valor à vida deles é o dinheiro. Não é o trabalho, vejam bem, é o dinheiro. Tanto que muitas pessoas trabalham, mas não percebem o próprio valor ou a importância de sua atividade.

Não somente o trabalho, mas a constatação que se deve consumir (cada vez) mais, para afirmar o próprio valor. Consequentemente há um esvaziamento e ausência de espaço para transcendência ou mesmo transgressão o campo social, pretendendo-se uma homogeneização que acompanhe a globalização econômica, que como se vê, é muito mais que apenas a questão financeira: é a extinção das diferenças, da diversidade e da própria natureza humana, que como se sente, não é feliz o tempo todo, por mais dinheiro e por mais que possa consumir.
Aí, reside o aspecto original do livro de Maria Rita. Ela tem acompanhado acampamentos do Movimento Sem Terra, na qual observou que o sofrimento apresentado a ela era de outra ordem. Essa diferenciação se engendra no entorno coletivo, na experiência da fraternidade e na valorização das pessoas por outros modos que não os ditados pelo capital e até mesmo nos conflitos experimentados e sentidos. Nesse ponto do livro, lembrei-me da história de Madre Tereza de Calcutá contada pelo padre Brian Kolodiejchuk Madre Teresa — Venha, seja minha luz. Nesse livro, o padre afirma que Madre Tereza passou 3 anos de sua vida, em profunda crise com a existência de Deus, com noites em claro, sensação de vazio, choro e todos os desconfortos que qualquer crise costuma trazer, superando-a no entanto, e reforçando sua fé e vocação religiosa

. Se ao invés disso, ela tivesse simplesmente passado por um psiquiatra de rede pública, com 5 minutos para atende-la e ela descrevesse esses sintomas, rapidamente se diagnosticaria uma depressão, devidamente medicada por algum antidepressivo. Nesse processo, não haveria o enriquecimento advindo do trabalho psíquico de elaborar e aprender com a experiência.

Não se trata de uma ode ao sofrimento ou a dor, mas uma resignifcação do sofrimento, que na sociedade atual não pode se manifestar, porque a ordem social é do querer parecer que se tem e do querer parecer que se é. Essa cobrança por rendimento é tamanha que eu mesmo, não raramente, me deparo com pais em busca de ajuda para seus filhos que foram mal nos exames escolares. Certa vez foi preciso muita conversa com a mãe para que ela entendesse que seu filho não era disléxico ou estava com grandes problemas de aprendizado. Ele apenas não havia estudado. E não havia estudado porque havia tido aula de inglês, de informática, de judô e prova de matemática na mesma semana. A superagenda do adulto está cada vez mais presente na vida das crianças. E na adolescência? Como se escapa desse sistema de cobranças familiares e sociais? Ou via superação, o que é desumanamente exigente e difícil ou via entorpecimento. É preciso falar do aumento de consumo de drogas entre adolescentes? E adultos? Que drogas tomam? Várias! Desde o falado antidepressivo para não desanimar e chorar (mesmo que o momento peça isso, como o luto por exemplo), passando pelas cervejadas para comemorar o fim da semana na sexta feira ou a televisão entorpecedora no domingo, porque ouvir certos slogans televisivos no domingo é claramente captado como um deprimente sinal que é hora de voltar para a correria. Correr para que e para onde mesmo?





Sugiro que o leitor busque o filme (encontrado disponível na internet) “A história das coisas” que complementará as idéias que tentei organizar aqui e acrescentará a questão ambiental implicada no nosso estilo de vida atual.

José Carlos da Costa
Psicólogo e educador.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

NOVO ENDEREÇO

NOVO ENDEREÇO!


Rua 14 de dezembro, 135 - sala 15 - Centro de Caieiras - SP
(Em frente ao Banco Bradesco)
Telefone: 11 9760 6984

quarta-feira, 12 de agosto de 2009




(HOMO- HÉTERO, BI, TRANS) SEXUALIDADE E A PSICOLOGIA





Tenho acompanhado o desenrolar dos fatos envolvendo a psicóloga Rozangela Alves Justino, punida em 31/7 pelo Conselho Federal de Psicologia (foi condenada à censura pública) por oferecer terapia para curar a homossexualidade.
Penso que a prezada colega tenha sim, ferido o código de ética profissional, uma vez que permitiu que seus preconceitos inundassem sua percepção. E também ignorou que orientação sexual não é sinônimo de doença ou garantia de saúde. Caso assim fosse, se a heterossexualidade fosse garantia de saúde não teríamos tantas mulheres estupradas, espancadas, tantos homens doentes e perversos e tantas crianças vítimas de pais abusadores e cruéis.
A desculpa por ela utilizada que muitas pessoas gostariam de mudar de orientação sexual não é válida. Em algum momento ela perguntou o por que desse desejo? A resposta é simples: o mundo ainda é suficientemente machista, preconceituoso e hipócrita em relação à sexualidade. E justamente por ser assim, há violência psicológica, física e social contra homossexuais. Logo, parece ser quase natural que alguém não queira ser canhoto em um mundo para destros.
Parece natural, mas não é! Quando alguém chega até um consultório de psicologia, esse alguém carrega um sofrimento, dúvida e se encontra fragilizado. E ao invés de propor que as questões angustiantes que normalmente acompanham essa pessoa, Rozangela preferiu permitir que seus preconceitos e sentimentos contaminassem seu acolhimento e com isso, perdesse de foco o ser humano.
Aprendemos durante nossa formação como psicólogos a não permitir que nossas opiniões se sobressaiam às necessidades dos nossos pacientes.
Pelo visto, a colega precisará rever sua própria análise pessoal e compreender sua própria aversão à homossexualidade. Essa aversão tem um nome: é homofobia e é ódio. Logo, é um sentimento inadequado em qualquer relação, especificamente a relação terapêutica.
Curiosamente, nestes dias, vi uma entrevista de Ney Matogrosso. Famoso por sua exuberância e talento, ele afirmou não desejar ser um estandarte gay, uma vez que sua orientação é apenas um detalhe de sua pessoa e que há muitos outros problemas que todos nós, qualquer que seja nosso sexo, idade, classe social ou orientação sexual: os problemas ambientais. Talvez seja hora de sermos menos mesquinhos e mais humanos!



Ψ Psicólogo: José Carlos da Costa Ψ
CRP 06/75153

domingo, 5 de julho de 2009

DEPRESSÃO

Depressão, conhecendo melhor essa poderosa inimiga.


Todos nós podemos ficar tristes, ter um momento qualquer de mau humor em função de uma decepção amorosa ou profissional, de uma perda de alguém querido, de um animal de estimação, de algo valioso, etc. Porém, a depressão é diferente! Ela não é sinal de fraqueza ou uma simples tristeza! Muito menos falha de caráter.
A depressão é uma doença! Ecomo doença, ela atinge a vida do sujeito e daqueles que convivem com ele, pois há alterações nos sentimentos, redução da sensação de bem estar e de uma hora para outra, muda-se a forma de pensar, as escolhas, as decisões, o comportamento e as crenças do sujeito. Embora ela tenha um quadro de sintomas, a depressão é demasiadamente traiçoeira e atinge cada sujeito de uma forma específica.
1- Quais seriam esses sintomas? Alguns deles podem ser:
• Tristeza ou irritação durante a maior parte do dia, quase todos os dias.
• Perda de interesse ou de prazer por atividades que antes eram agradáveis.
• Mudanças súbitas no apetite ou no peso (sem explicações físicas)
• Insônia ou necessidade de dormir aumentada.
• Agitação ou prostração (dificilmente a pessoa acometida pela depressão percebe)
• Sensação constante de falta de energia, cansaço ou como “se o mundo estivesse pesado”
• Dificuldade para concentrar-se e para tomar decisões.
• Pensamentos freqüentes sobre morte ou suicido.
• Desinteresse afetivo (a pessoa deprimida não quer falar com amigos, parentes ou qualquer outra pessoa próxima).

Importante apontar: crianças, adolescentes, homens, mulheres, adultos e idosos tem depressões semelhantes quanto à estrutura, porém, a manifestação da depressão em cada um desses grupos será alterada. A presença de pensamentos suicidas aponta para necessidade urgente de intervenção profissional. Se você é ou conhece alguém com esses sintomas, procure ajuda.
Como doença, vale lembrar que a OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta para a definição de saúde que seria um bem estar envolvendo os aspectos biológicos, sociais e psíquicos de cada sujeito. Logo, é importante que a depressão não seja tratada única e exclusivamente através de medicação. É importante que se conheça a origem de tais sintomas, ou corre-se o risco de tratar apenas dos sintomas, que após certo tempo eliminados por medicação, tendem a voltar, caso não exista um tratamento que englobe a psicoterapia, as atividades físicas e alimentação equilibrada.
2- Causas da depressão:
A depressão é uma doença multifatorial, ou seja, vários fatores podem desencadeá-la. Apontemos algumas das principais causas:
• Experiências pessoais intensas: separação, divórcio, morte da esposa ou marido, perda de emprego, problemas financeiros graves, acidentes, etc.
• Abuso de álcool ou de outras drogas,
• Algumas medicações e outras doenças simultâneas ou anteriores à depressão. (hipertiroidismo, por exemplo, cujos sintomas são muito semelhantes)
• Em mulheres, mudanças hormonais após o parto.
• Histórico familiar de depressão.
• Em idosos, doenças como câncer, Alzheimer e Parkinson.

Novamente cabe dizer que mesmo que a causa não seja identificada facilmente, boa parte dos sintomas (veja Quadro 1) podem ser tratados corretamente através de tratamentos.

3- Tratamento. Tem tratamento? Como é?

Sim, tem tratamento, cerca de 80% das pessoas acometidas, melhoram depois de iniciado um tratamento adequado. O tratamento, seja via medicamentosa ou psicoterapêutica leva um tempo para começar a surtir efeitos. As pessoas idealizam normalmente que assim que iniciado o tratamento já exista melhora imediata. Tantos os medicamentos (que levam de 1 a 2 semanas para começarem a fazer efeitos no organismo) como a psicoterapia (que dependerá do quanto a pessoa deprimida consegue falar sobre si mesma) tem um tempo para surtirem efeito. E os familiares e amigos do sujeito deprimido, devem tomar cuidado para não exigirem deste uma melhora imediata. É como se pedíssemos para alguém que acabou de tirar os gessos da perna para correr. É preciso tempo.

4- O que posso fazer para melhorar?

Primeiramente é preciso procurar ajuda. 85% dos casos de depressão que são atendidos em consultórios tem melhoras no prazo de 6 meses.
Converse com os profissionais que cuidam de você, fale abertamente sobre suas angústias, problemas e sentimentos. Se sentir um efeito colateral de alguma medicação, fale imediatamente com seu médico. Ele saberá o que fazer. Não omita informações sobre outras doenças e outros remédios que porventura você estiver tomando. Não tenha medo ou vergonha de dizer que tem depressão. Ela é uma doença e pode atingir qualquer um. Não tenha receio de pedir ajuda.



Ψ José Carlos da Costa Ψ
psicólogo especialista em Depressão
Rua São Pedro, 263, Jardim São Francisco – Caieiras- SP
(próximo ao Campo São Francisco)
CEP 07700-000
fones: 11 4442 0589
11 9760 6984


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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Punição nas escolas: disciplinarização ou espaço de construção de saberes?





Os professores brasileiros querem punições mais duras aos alunos, na busca por disciplina, aponta um pesquisa nacional feita pela Organização dos Estados Ibero-americanos e pela Fundação SM, publicados ainda hoje no site da Folha de São Paulo.

Chamou-me atenção o dado da pesquisa que revela uma porcentagem significativa de educadores defende a expulsão de alunos considerados "problemáticos e indisciplinados".


Como educador escolar, sou solidário ao sofrimento dos professores que participaram da pesquisa. Esse sofrimento no entanto deve ser compreendido. Se o professor deseja repetir sua vivência pessoal enquanto aluno, no qual todos tinham pai, mãe (ou quiça, alguém que cuidadesse do aluno), alimento e um olhar de acompanhamento das atividades, sofrerá. Sofrerá porque esse modelo familiar e essa idealização de aluno estão distantes da realidae dos alunos, em sua grande maioria.
Por outro lado, como eternamente ex aluno, sei dos malefícios da punição. Pude sentí-los na pele, ou melhor, na alma, uma vez que no meu tempo a palmatória já havia se extinguido.


Falhas na Educação (e sempre lembrando: é importante NÃO confirnarmos a educação no espaço escolar!) sempre são apontadas e geram disputas para atribuir a culpa a esse ou aquele fator. Pais acusam professores de não se atentarem aos seus filhos, que pagam impostos ou a mensalidade da escola justamente para esse fim. Professores por sua vez, acusam os pais de ausência e de não saberem dar limites. A "culpa" pela má educação dos alunos (ou indisciplina, como costuma ser chamada) pode recair na problemática social, na mídia, nas músicas, nos desenhos animados e até nos avós.


Como psicólogo, costumo dizer que culpar alguém ou algo é somente uma forma de fugirmos da responsabilidade.

E quais seriam as responsabilidades de todos nós acerca da educação? Quando transferimos essa parcela de responsabilidade para o outro, abrimos mão de nosso papel, seja como educadores, seja como pai, mãe ou vejam só, responsável pela educação de alguém. E o que acontece? A FALTA DE EDUCAÇÃO se efetua como realidade imposta, amargando a vivência e os saberes e discussões. Já ouvi um professor dizendo que não era educador. Que sua função era "ensinar" x disciplina. Igualmente ouvi que Piaget, Vygotsky e Freud eram alienados e fora da realidade.

Boa parte dessa discussão parece estar a milhas da ética. Será? As escolas ainda hoje, oferecem um código moral. Por moral, entenda-se o conjunto de regras a serem seguidas. A ética, por sua vez, envolve a subjetividade, ou seja, a interiorização e vivência do sujeito que interfere em sua práxis cotidiana.


Já trabalhei em uma escola na qual os alunos não eram convocados a participar e impedidos de exporem suas idéias. Obviamente a algazarra era geral, gritos ecoavam por todos os corredores e a escola como um todo era depredada. As reuniões de pais raramente tinham êxito e os casos mais crônicos de indisciplina eram transferidos para outra escola. O corpo gestor e docente consideravam a comunidade hostil e os pais fracassados na função de "dar limites". Os pais por sua vez, diziam que os alunos eram maltratados (infelizmente era verdade, muitos professores eram tão "sem educação" quanto os alunos, ou seja, devolviam a agressão que sentiam receber dos alunos em igual ferocidade), enquanto que os alunos solicitavam o direito ao grêmio, aos espaços da biblioteca, da sala de informática e outros... e a disputa para ver de quem era a culpa por tal desorganização descambava para um cabo de força, no qual ambos perdiam: espaço e pessoas.


Embora exista muita literatura e diversos cursos, são ainda raros os professores com disponibilidade horária e financeira para entender o processo de inclusão escolar. Também são poucos os pais e responsáveis com disponibilidade para conversar com seus filhos e crianças. É preferível atribuir a alguém a culpa e eis que nos surpreendemos ainda com a falta de educação dos brasileiros.


Contardo Calligaris, aponta para a falta de ritualização presente hoje em nossa sociedade. Por ritualização, podemos entender também uma problematização na qual o envolvimento do participante seja crucial para sua solução. Talvez seja necessário retormarmos questões simples como o diálogo. Enxergar o que está por trás da indisciplina, tentar outros caminhos que não os extremos: libertinagem total ou expulsão. Entre o passar a mão na cabeça e a cinta também há muitos outros caminhos possíveis.


Porém, enquanto agirmos como se jogássemos o velho jogo da "Batata Quente" não poderemos mudar a configuração dos espaços escolares, que são de fato, transformadores. Talvez seja necessário idealizarmos menos a realidade dos espaços escolares e lidarmos com suas falhas, inerentes aos constructos humanos.

Questão: Por que será que a antiga FEBEM não tinha êxito em sua proposta? Seria por falta de castigos?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

SOLIDÃO: NECESSIDADE OU SINTOMA?




A solidão: necessidade ou sintoma?


No texto passado falei sobre a importância da amizade para a manutenção da saúde. Curiosamente, relendo o maravilhoso “Quase Tudo” de Danuza Leão, um pequeno trecho me chamou atenção. A autora comenta que necessita estar só em alguns momentos para ter o mínimo de saúde mental. E nós? Será que conseguimos diferenciar a solidão necessária do isolamento sentido nos tempos modernos?

No entanto, a solidão é também necessária. É importante para lidarmos com nossos desejos, frustrações, angústias e com nosso próprio desenvolvimento.
E também p ara os que não estão sozinhos. Refiro-me a você mesmo que me lê e que é mãe, pai, filho, filha, irmão, irmã, marido, mulher e outros. Muitas vezes, vejo casais que não conseguem ficar sozinhos. E não estou falando em romantismo. Estou falando em total incapacidade para resolver ou fazer qualquer coisa sem outra pessoa por perto.

Hollywood está aí, povoando nosso inconsciente de que a solidão é algo horrível, que só se pode ser feliz se tiver alguém o tempo todo dizendo que somos incríveis, que nos ama incondicionalmente e que, enfim a solidão é sinônimo de tristeza e fracasso.
Será que as coisas são assim?

Quando se é jovem não se pode esperar pelo momento que vamos estar sozinhos em casa. Muitos amigos casados também comentam que quando as mulheres estão viajando permitem-se pequenos prazeres. Confidenciam-me como se estivessem cometendo um pecado gravíssimo. E desconfio que as mulheres, também, devem fazer o mesmo. Não só desconfio, como recomendo: para uma vida feliz a dois, momentos felizes a sós, consigo mesmo.

O problema é que além de Hollywood temos as novelas, os filmes enchendo nossas cabeças com cenas de traição, motel, mortes, enfim, os fantasmas da vida a dois. O que não se sabe é que uma vez que se age assim, neuroticamente rastreando o outro, fica-se inseguro e vulnerável. Pior: acaba-se, não raramente fazendo relatórios chatos de atividades para o outro e exigindo que o mesmo seja feito.

A relação não precisa ser entre casais de namorados ou casados. Qualquer relação que caia nessa armadilha está fadada ao tédio e ao desgaste. Há pessoas que não respeitam quando o outro está no banheiro, no quarto ou simplesmente pensando na vida. Querem saber tudo.

"Não se pode fazer nada sem a solidão" - Pablo Neruda.

Winnicott, psicanalista inglês pesquisou sobre os objetos transacionais e sua importância para as crianças. Esses objetos: cobertores, ursinhos, chupetas, chocalhos, ensinam o bebê gradativamente que a mãe é um ser separado dele, com vontades próprias. E é exatamente daí que nasce a nossa criatividade. Pois bem, o problema é que no decorrer da vida, aprendemos que a vida de adulto é uma imensa gama de tarefas a serem realizadas e detalhadamente contadas para o outro.
As relações são construídas com confiança, interesse e descoberta. E aí é que mora um grande aliado, ao ser empreendedor de momentos a sós consigo próprio, se tornará de falto alguém mais interessante e sábio .

Os filósofos existenciais nos mostraram que a solidão é inerente ao ser humano e são bem poucos os que conseguem tirar proveito ou ter o direito (ou se dar o direito) de alguns minutos, horas ou dias a sós consigo próprio. Somente quando experimentamos certas situações sozinhos é que vamos conquistando a confiança necessária para a vida. Pode ser qualquer coisa: cozinhar, dirigir, ir a algum lugar, assistir um filme, enfim, qualquer atividade que se tenha o prazer único de nossa própria companhia.

Então, se pergunte: o que você faz em seus momentos de solidão? Você se permite ficar a sós com você mesmo? Quando você se olha no espelho e se arruma a quem está tentando agradar? Quando você se alimenta, presta atenção no que está comendo? Sente o sabor? Quando toma um banho, olha para o seu próprio corpo? Você lê algum livro? Faz alguma atividade que permita ter algo para contar para quando não estiver sozinho? Já mergulhou dentro de você mesmo?
Há uma pessoa incrivelmente interessante dentro de você mesmo. Permita que ela se mostre! A psicoterapia é uma dessas formas! Aventure-se!


José Carlos da Costa - Psicólogo pós-graduado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo


CRP 06/75153

Consultório
Rua São Pedro, 263, Jardim São Francisco – Caieiras- SP
(próximo ao campo São Francisco)

11 4445 05 89
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